quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Untitled - Três Chávenas

Estas três chávenas:
Brancas, curtas, gordas;
Cada uma sentada
Em sua própria cama de louça.
Conversam sobre suas cores,
Seus lixos, e seus sabores:
Papel aqui, colher ali;
Açúcar práli, cinza práqui;
Eu de fundo limpo,
Tu de fundo de côr:
Resto de alguem que bebe
O café sem grande fulgor.
Sujas, iguais
De espuma lá dentro colada;
De pega para fora espetada...
Por qualquer pessoa usada,
Após sem pena se ver queimada
No reflexo branco sem dor.

sábado, fevereiro 18, 2006

Untitled - Suprima-se a Dor

Escrevo estes versos às escuras,
Pois a noite se derramou:
Suprimiu a luz do dia,
Que em glória se apagou.

O vento espreme as nuvens
Contra as cortinas de minhas janelas;
E neste mundo de Hades
As árvores regozijam-se negras
Da vida que nasce delas...

Suprima-se o Sol,
Suprima-se a côr;
Suprima-se a Lua...
Suprima-se a dor.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Soneto de Sonetos - VI

Tantas lágrimas de tanto chorar,
Brotando de olhos que são feridos,
Por facas e flechas tão atingidos:
Por triste fado sem clemenciar;

Laços que quebram com o ressoar
Desses ttraídos corações partidos,
Amores tão duramente esquecidos,
Ou mortes que a vida faz assolar.

Facas e sangue gravando versos;
Tinta de choro troveja poemas;
Nuvens choram tantos choros dispersos

Por páginas de palavras selenas,
Estrofes d'obscuros corações imensos:
Memórias de noite, dor e dilemas.

Soneto de Sonetos - V

Em vós cabe a mais imensa paixão...
Tanto amor conseguem, em vós, conter,
Sem rebentar, ou um pingo verter;
Tanto guardam, de tanto coração.

Podemos, nós, sentir até mais não...
Vós, aí estão, para nos receber,
Seja o que for que queiramos dizer:
Nossas palavras em vós cairão,

Como a água que sem amparo cai,
Seja ela chuva, granizo ou neve;
Também para vós qualquer paixão vai,

Seja longa, proibída ou breve:
Coligem vós todo o vapor que sai
Do coração, que para sempre ferve.

Soneto de Sonetos - IV

Sentem com a força d'um coração,
Os amores vividos e sonhados;
Memórias de sorrisos conquistados,
E as lágrimas de tanto se ouvir "Não";

Não se importam em saber porque são...
Existem porque sim, inexplicados,
Em versos de sentimentos rimados:
Sólidos sentimentos de betão.

Poesia esbelta, tão bem traçada:
Memórias eternas e amorosas...
Memórias obscuras e dolorosas;

Escondem a verdade a vós segredada,
Em trechos de palavras receosas...
Botões fechados de vermelhas rosas.